Aforismo (s.m.):
máxima
que, em poucas palavras, explica uma regra ou princípio moral.
Há meses me ocorre esta palavra. Há meses, também, postergo
minhas palavras.
Que seja, então: trago-vos um pouco do meu nheegatu.
Aforismo é, sobretudo, um paradoxo. É comprimir complexos
princípios, ideias, montantes de significado em partículas de valor. Valor este
que pode ser verbal, iconográfico, sinestésico...
Que tal um ditame popular? : ‘’Pau que nasce torto nunca se
endireita’’. Um aforismo.
Ou algo mais denso. Vamos de Nietszche, o Fred: ‘’Cada pessoa
tem que escolher quanta verdade consegue suportar’’. Outro aforismo.
Não importa o tempo que você vai passar refletindo acerca do
que ouvira. Aforismo.
Acontece que essa palavra dialoga comigo de uma forma além.
Quase metafísica...
Aforismo é você viajar a uma cidade nova, procurar um bar
qualquer e pedir ao barman uma cerveja local. Aquela que só tem ali. O orgulho
materializado em água, malte e lúpulo. Bebe-se a cidade. Bebem-se as
experiências, as pessoas, as prosas.
Aforismo, ainda, é imergir no produto final de um artista. É
contemplar A Noite Estrelada e visualizar o caos na mente de Vincent. É ouvir
Ave Maria e sentir a prece sussurrada de Sebastian junto ao ouvido.
Aforismo é sentir o cheiro do tempero e lembrar-se da comida
de vó. Sentir o cheiro do perfume e lembrar-se da pessoa amada. E claro, para
ser literal, lembrar-se de tudo que isso significa.
Na Medicina, aforismo é colher uma histórica clínica de 15
minutos e vislumbrar, deduzir, diagnosticar o que se passa no organismo, na
mente, na vida do paciente. O entrevistador pergunta: ‘’O que trouxe o senhor a
procurar atendimento médico?’’ Ele até responde ser uma dor de garganta, uma ‘’gastura’’
ou, talvez, ‘’só fazer um check-up, doutor... ’’. Mas, muitas vezes, o problema
está bem fundo, quase no intangível. E é necessário entender os aforismos. Agarrar
nas pequenas palavras os grandes significados...
Assim, apresento-vos meu aforismo predileto, ao menos por ora: m’illumino
d’immenso (ilumino-me do imenso, em português tradução livre).
Giuseppe Ungaretti, em 1919, compôs este breve poema chamado ‘Mattina’.
No momento em que é invadido pela primeira luz da manhã, Peppe
sente-se capaz de perceber a vastidão imensa do infinito, de entrar em contato
com o absoluto.
M’illumino
D’immenso.
Aforismo.
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